Sobre meus livros e minha trajetória literária
Parte I

Quando penso sobre os fatores que me levaram a escrever e investir meu tempo em minha carreira de escritor e autor de Fantasia e Terror, minha mente retorna até a época em que cursava o ensino médio. Foi quando escrevi para um concurso, uma gincana cultural, da escola Rui Barbosa em Taboão da Serra, um conto denominado A Porta Aberta. No quesito literário, havia três modalidades: poesia, contos e crônicas. Participei das três, mas com quatro textos. Convém lembrar que na juventude às vezes burlamos as regras no intuito de um fim comum. A competição era por equipes, e eu acabei inscrevendo dois contos meus, um em meu nome e outro em nome de uma amiga querida, que estudava na mesma sala, rs. Para minha surpresa, o conto atribuído à minha amiga, uma fábula intitulado, se não me engano, pois infelizmente perdi esse texto, de "A vassoura e a tartaruga", foi vitorioso. "Uma porta aberta" , o conto inscrito em meu nome, ficou em segundo lugar. Resumindo, a nossa equipe ganhou as medalhas e as pontuações do primeiro e segundo lugar. Estava inspirado na época, e minha poesia "Deserto de mim" e minha crônica "Dirigir dirigido" ganharam as respectivas categorias. Mais duas medalhas e pontos para a equipe.
Recebi, na ocasião, conselhos de alguns mestres para que me dedicasse à escrita. Sempre amei escrever, mas estava me formando em Técnico em Contabilidade, os números me aguardavam. Fui trabalhar como bancário no setor de Cobrança, depois Caixa Executivo, com direito a curso e tudo mais emitidos pela empresa. Como havia ingressado no ensino superior e fazia Contabilidade pela Campos Salles em S. Paulo, consegui estágio em algumas escolas em Taboão da Serra lecionando Matemática e depois em Itapecerica, como professor oficial de Contabilidade Industrial, Bancária e Custos, disciplinas que lecionei por mais de dez anos. Nesse tempo também atuava como Gerente Financeiro em uma empresa industrial. Como vocês devem ter percebido, os planos literários haviam ficado para trás.
Todavia, nunca deixei de escrever, geralmente, contos e poesias. Muitas dessas poesias, hoje compõem meu livro Vidas de Areia e alguns contos como A cabeça da Moreia, A tumba do horror e Uma porta aberta, o livro Contos sinistros. Convém lembrar que este último conto na primeira edição do livro aparece como A porta Aberta e na edição definitiva, quase três anos depois, publicado pela Editora 24 Horas, como A mãe do monstro, a sinistra narrativa de uma jovem que se depara com os algozes de sua irmã desaparecida, uma anciã antropófaga e seu dantesco filho.
Foi a partir de 2012, que comecei a dedicar um pouco mais do meu tempo a carreira de escritor. Certa noite, quando fazia uma caminhada, uma história começou a se desenrolar em minha cabeça. Sempre tive isso. Quando me desligava da rotina do trabalho, sempre envolvida com números e cálculos, minha mente era assaltada por imagens, histórias, mundos fantásticos, essas coisas que existem na cabeça de todo escritor e autor de Fantasia e Terror. Voltei para casa com uma história, que desta vez, decidi não deixar se perder como tantas outras. Tratava-se de uma narrativa que envolvia grupos indígenas, criaturas das lendas brasileiras e um lugar fantástico, que denominei, a priori de O Mundo dos Encantados, estava nascendo o universo de um dos meus personagens preferidos, Jupiro.

Jupiro e A mulher da cabeça para trás
Como mencionei, a história do menino Jupiro havia invadido a minha cabeça. Para minha surpresa constatei ser 19 de abril, dia dos povos originários, conhecido tanto tempo apenas como Dia do índio. Quem quiser acredite em coincidências, para mim elas não existem. Comecei a escrever e uma dica que deixo aos meus amigos escritores, é de que criem sempre uma playlist. A música ajuda e muito. Para meu livro escolhi em sua maioria músicas instrumentais, algumas indígenas, flauta andina e clássica.
Como escritor de primeira viagem, escrevi e escrevi. O romance teve três partes e mais de seiscentas páginas. Não me preocupei com a quantidade, só depois que me dei conta que o custo do livro ficaria alto. Não tinha editora em vista e não conhecia publicação independente. O livro ficou pronto, registrei na antiga Biblioteca Nacional do Rio de janeiro, enviei um calhamaço de páginas impressas pelo Sedex que ficou o olho da cara. Contratei uma revisora, que se surpreendeu com minha história, tamanho e qualidade da trama, e me deu dicas preciosas. Seu pai, professor, vivera por muito tempo na Amazônia, a história se desenrola nessa região, cerca de sessenta anos após o descobrimento do Brasil ou invasão de Pindorama, como defendeu alguns.
Cadastrei a minha obra, devidamente registrada, na plataforma da Mesa do Editor, um site que reúne em um só lugar escritores e editoras do país e do exterior. Em menos de vinte e quatro horas recebi dois e-mails, duas editoras estavam interessadas. Volto a afirmar, não tinha experiência e mal sabia diferenciar uma editora de uma prestadora de serviço, optei pela oferta que me parecia mais aplausível. O livro foi publicado pela Editora Biblioteca 24 Horas, aqui de São Paulo. Se algum amigo escritor, tiver alguma dúvida, ou esclarecimento sobre essa editora, o site da Mesa do Editor ou alguma outra coisa, por favor entre em contato comigo, que terei o maior prazer em compartilhar meus modestos conhecimentos. Como o arquivo foi retirado da mesa do Editor, não sei se receberia outras ofertas, quiçá até mais promissoras, mas volto a repetir, não tinha experiência e o que aprendi foi arregaçando as mangas e indo à luta. Hoje encontramos muito esclarecimento nas redes sociais, grupos de escritores e no YouTube, recomendo o canal do Sidnei Guerra e da Laura Bacelar, eles são incríveis e esclarecem muitas dúvidas referentes ao mundo editorial e da autopublicação.
Breve sinopse do livro:
Moara, uma princesa inca, chega com sua comitiva em dois grandes barcos de jundo, fugindo dos conquistadores espanhóis e um de seus primeiros contatos é com uma personagem mítica de nossas lendas, Iara, aqui referida como a senhora de Nhandeara, um reino pertencente à Orokaba, o Mundo dos Encantados. Nos capítulos seguintes somos, tanto nós leitores, como a princesa inca e sua trupe, apresentados a incríveis personagens, como Itacira, uma senhora que vive no meio da floresta, avó de Cobra-Maria e Honorato, das lendas amazonenses. Aldeias incríveis são visitadas pelos incas em seu trajeto até Manoa, a cidade misteriosa erguida na floresta por uma civilização, há muito esquecida. Perigosos inimigos tentam contra a vida da princesa, entre eles a bruxa Kulkucaia, aqui em sua primeira aparição, antes que ganhasse seu livro próprio, derivado desse incrível mundo: Kulkucaia, a bruxa.
O livro foi publicado em 2015. A fonte utilizada na diagramação do texto foi Times News Roman, tamanho 10. Com isso consegui reduzir a quantidade de páginas para 468 e consegui com isso diminuir o custo de produção.
Neste ano também comecei a me interessar pelas antologias. Uma editora de Portugal estava com uma antologia chamada Contos Fantásticos Hórus. Tinha acabado de escrever um conto intitulado A mulher da cabeça para trás e resolvi enviar, era o último dia do prazo. Na tarde do dia seguinte recebi feliz a confirmação que meu conto havia sido selecionado. Como as histórias selecionadas eram razoavelmente extensas, apenas quatro autores participaram do projeto: Alexandre Menphis (SP- Brasil), Lily Silva (PA- Brasil) Guadalupe Navarro (Lima- Peru) e Marcos Barranco (Setúbal- Portugal). Sou imensamente grato por esta participação, além de ter meu texto publicado no exterior conciliei fraternas amizades.
O conto A mulher da cabeça para trás se passa no interior do Piauí, no ano de 1930, quando nasce Mojica, uma criança diferente e cercada de mistérios. Sua mãe morre durante o parto e a avó atribui a tragédia às forças do além. Jurandir, o pai da criança, foge com a filha para um local ermo e isolado. Ele tenta a todo custo salvá-la do mundo que certamente não a entenderia, mas se depara com forças obscuras e tenebrosas evocadas pelo espírito de Antônia Lopes, a mãe de Mojica. Morte, vingança e misticismo fazem deste conto, uma experiência aterrorizante.
